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Olho o espelho e não me reconheço. Olho de várias perspectivas e noto: Mudei...!
Sorrio pelos poucos aspectos positivos e desiludo-me com acções que eu nunca notei ter tido: fui parvo, disse o que não devia, tornei-me arrogante e reprovador.
Agora procuro-me nas ruas desertas desta cidade nostálgica. Esgravato e desarrumo o Passado para definir o Futuro.
Grito:
-Identidade! Aparece! Por favor...! Preciso de ti! Desculpa ter-te ignorado durante anos...! O Futuro está à tua espera para começar!
Nenhum som é emitido. Ninguém diz nada. Aconchego a cabeça entre os meus braços e espero-a, impancientemente, chorando, sem cessar, pela Solidão e pela indefenição do Futuro.
-Por favor...! Aparece!-suplico eu quase a gemer.
É então que desce do céu um anjo gótico com asas a condizer que com a voz suave de um malmequer me esclarece:
-Procuras uma identidade sem notar que a tens. Tolo...! O teu Futuro só pode ser definido por ti! Mudaste, como é claro! À medida que o tempo passa as pessoas evoluem ou involuem! Ninguém pode evitar! Não te rebaixes tanto... Vai! Despacha-te que o tempo não espera por ti! E não te esqueças de viver calorosamente.
Num ápice o anjo desaparece. Fujo pelas ruas labirínticas para chegar a casa e começar a aproveitar a vida.